Depois dos exageros da festa de fim de ano, você faz as promessas para 2018.

Perder peso, mais uma vez, está na lista. Corajosamente, sobe na balança e o ponteiro dispara: 105 kg. Sem entrar em pânico, se lembra de que leu em algum lugar que peso não é tudo, é preciso verificar o IMC (Índice de Massa Corpórea), e calcula seu veredicto: 36,6 kg/m², o que é considerado pela OMS obesidade grau II. Você até pondera que músculo pesa mais do que gordura, mas sabe que há meses só vai ao futebol para tomar a cervejinha com os amigos.

Então, você decide cortar o açúcar, a cerveja e o pão. Aumenta a quantidade de frutas, legumes e verduras (FLV) e ainda se lembra que, no último exame periódico, o Médico do Trabalho lhe disse que você precisava de cinco porções de FLV ao dia.

Depois de um final de semana bem equilibrado, você vai trabalhar. Logo de manhã, no restaurante da empresa lhe oferecem café com leite e açúcar, pão com manteiga e bolo.

Você pensa que poderia ter trazido uma banana e uma maçã, mas a política da empresa não permite que os funcionários levem alimentos para a planta.

No cardápio do almoço, arroz, feijão, carne de panela ou ovo frito, bolinho de abobrinha (também frito!) e cenoura com manteiga. Na parte da salada, a alface está se desfazendo, mas você ainda encara um tomate. Como sobremesa, há banana verde ou pudim de arroz. E para beber as opções são suco com 10% de fruta e muito açúcar ou refrigerante.

Mas você é um otimista e planeja uma hora de caminhada quando voltar para casa. Para minar sua perseverança, naquele dia a produção precisa de um reforço e você dedicará mais duas horas de trabalho. Ao chegar em casa, você está tão cansado que só pensa em ir para cama.

OBESIDADE 

Esta história pode ser fictícia, mas é inspirada em fatos reais. Parece um contrassenso que muitas organizações enfrentem os problemas crescentes com a obesidade dos trabalhadores sem se dar conta de que o ambiente de trabalho pode ser um promotor de saúde e peso adequado, ou um gatilho para a má alimentação e o ganho de peso.

A obesidade está associada a muitos problemas de saúde como diabetes, doenças do coração, depressão, pressão alta, colesterol elevado, apneia do sono, problemas respiratórios, derrames, doença do trato urinário, osteoartrite. Alguns tipos de cânceres (endométrio, mama, cólon, rins, esôfago, vesícula, pâncreas e fígado) e síndromes metabólicas. Estes problemas tendem a aumentar os custos com a saúde, seja no sistema público ou privado.

Existem muitos estudos que mostram associação entre um IMC maior entre trabalhadores e um aumento do absenteísmo, incapacidade, afastamentos, além de redução da produtividade e do desemprenho, em especial por conta do presenteísmo. O risco de acidentes também aumenta com a obesidade. Um estudo com mais de 11 mil trabalhadores mostrou um risco relativo de 0,81 para indivíduos com IMC de 18,5 kg/m² enquanto para trabalhadores com IMC de 40 kg/m², o risco aumentou pata 1,45.

O trabalho pode contribuir para o aumento de peso não apenas por conta da alimentação, muitas vezes hipercalórica e com poucas opções saudáveis, mas também por causa dos riscos relacionados ao próprio trabalho em si.

Desses, podemos destacar os fatores estressores e psicossociais, longas horas de trabalho, trabalho em turno e noturno, e condições de trabalho que favoreçam o sedentarismo.

Perder peso e manter um peso ideal exige um programa baseado em dieta saudável, atividade física, mudanças no estilo de vida, apoio social e, por vezes, tratamento especifico para casos mais graves de obesidade.

BOAS PRÁTICAS

Recentemente, um artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine trouxe uma revisão de literatura muito útil para os profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho, com dados de estudos recentes e propostas de intervenções nos ambientes de trabalho. Você pode acessar o texto completo em http://journals.lww.com/joem/Fulltext/2018/01000/Obedity_in_the-Workplace__Impact,_Outcomes,_and.15.aspx.

1. Sempre ofereça opções saudáveis nos restaurantes, lanchonetes ou máquinas (vendor machines). E não se esqueça de manter a politica de alimentação saudável nos eventos promovidos pela empresa;

2. Garanta acesso seguro a escadas e áreas livres para caminhadas. Encoraje a prática de atividade física;

3. Ofereça orientações sobre alimentação saudável, exercícios e controle de peso.

4. Quando possível, inclua atividades semelhantes nos programas de promoção da saúde e de benefícios da empresa;

5. Nos exames periódicos, avalie o peso, os hábitos e as necessidades do trabalhador;

6. Ofereça apoio e acompanhe aqueles que precisam perder e manter peso.

Mais do que promover a saúde dos trabalhadores e da própria organização, estas ações contribuirão para criar um clima mais colaborativo e mais leve para todos.

 

Fonte:
Revista Proteção: Marcia Bandini – médica especialista e professora em Medicina do Trabalho, com doutorado pela FMUSP .

Gerência de Recursos Humanos
Departamento de Saúde e Segurança do Trabalho – DSS